quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A atriz


Sara Bernhardt
(1844-1923), cresceu na Bretanha, conhecendo apenas a afeição da pobre ama camponesa.

Certa vez, caiu no fogo, pois estava presa a uma cadeirinha, enquanto a ama trabalhava na colheita de batatas. Seus gritos foram ouvidos, acudiu muita gente. Seu apelido era Flor-de-leite, e ela foi submergida em leite recém tirado e untada com manteiga. Apareceram tias de todos os lados. Sua mãe, viajava pelo mundo e raramente aparecia para visitá-la. Um dia atirou-se pela janela, quebrou um braço em dois lugares e partiu a rótula. Levou dois anos para curar-se, por ser extremamente frágil. Aos sete anos foi para o internato. Quis ser freira. Foi enviada para o conservatório, para estudar arte dramática.

Ficou conhecida por ter gênio violento. Magra, franzina, pálida, olhos vivos, boca amargurada, cabelos crespos de um loiro dourado. Uma de suas primeiras apresentações representou uma russa desmiolada, numa peça fraca. Os comentários impiedosos da mãe a fizeram partir para Espanha. Quando regressou, não conseguiu mais morar com a mãe e mudou para outra casa e levou sua irmã caçula, ainda pequena. Logo consegue um contrato com o Teatro Odéon. A primeira peça não lhe rendeu nada, mas Zacharie marcou seu triunfo. Sua voz impressionou a todos, e seus gestos harmoniosos. Passou a ser a preferida dos estudantes. Nesse teatro realizou-se, embora na Commédia Française tivesse aprendido muito. Linda voz, perfeita dicção era aclamada com delírio.

Veio a guerra entre a França e a Espanha, Sara conseguiu autorização do Ministério da Guerra para a fundação de um hospital militar. Conseguiu arrecadar doações de seus amigos, do Prefeito, o conde Kératry; seu velho amigo. Depois do tratado de paz de 1871, procurou trazer a família de volta à Paris.

Em 26 de janeiro de 1872, no Teatro Odéon viveu seu dia mais glorioso:
  • ao fim da representação de Ruy Blas, do escritor Victor Hugo, este ajoelhou-se a seus pés agradecendo
Fez uma viagem à Inglaterra, turnê verdadeiramente triunfal. Oscar Wilde lançou-lhe aos pés, para que pisasse, uma braçada de lírios. Sendo também, pintora e escultora, vendeu suas peças e com o dinheiro queria comprar leões. Tinha fascinação pelos animais. Demitiu-se da Commédie Française e aceitou excursionar pela América durante sete meses:
  • 50 cidades e 156 espetáculos
Em 1905 viajou em turnê para o Brasil, Argentina e Estados Unidos. No Rio de Janeiro, no Teatro Lírico, recita a Tosca de Sardou, na cena do suicídio em que a personagem se atira de uma sacada, ela sofre uma fratura exposta, que mais tarde, em Paris, acabou gangrenando e ela teve que amputar a perna.

Ela dividia as preferências do público com a grande Eleonora Duse, mas os grandes homens de seu tempo a rodeavam:
  1. Freud
  2. Flaubert
  3. Victor Hugo
  4. Alexandre Dumas,
e uma enorme lista incluindo altezas e artistas.

Maurice seu filho, nasceu de um amor vivido com um herdeiro imperial, mas ela não fez questão do reconhecimento do filho, pelo pai. Maurice era belíssimo.



Atingiu o máximo do sucesso. Classificavam sua voz como "soprano coloratura" ou "mezzo soprano". Sua voz tinha vibrações, modulações de timbre inigualável, de pureza radiosa. Mereceu ser chamada de "A divina S". Mas a descida foi terrível, sua voz principiou a alterar, perdera as modulações harmoniosas, fugiu do palco. Sofrendo intensamente, atuava em papéis cada vez mais reduzidos. Ainda era seu o título de maior atriz da França.

Somando-se à perda vocal, os efeitos da queda que sofrera quando criança e a deixara entrevada por dois anos, retornaram com gravidade. Teve de passar pelo trauma e pela dor atroz da cirurgia de amputação. Surpreendendo a todos, voltou à ribalta, uma guerreira tem direito à sua última batalha. A perna mecânica tornando seu andar rígido, o esforço transparecendo nas feições. Morreu aos 79 anos em 1923.






Origem: do livro 'Elas mulheres que marcaram a humanidade' de Lúcia Pimentel Góes

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