terça-feira, 29 de julho de 2008

presente abençoado

Ser Mãe

Nós estamos sentadas almoçando quando minha filha casualmente 
menciona que ela e seu marido estão pensando em 'começar uma 
família'.
'Nós estamos fazendo uma pesquisa', ela diz, meio de brincadeira. 'Você
acha que eu deveria ter um bebê?'

'Vai mudar a sua vida,' eu digo, cuidadosamente mantendo meu tom
neutro.
'Eu sei,' ela diz, 'nada de dormir até tarde nos finais de semana, nada
de férias espontâneas.. .'

Mas não foi nada disso que eu quis dizer.
Eu olho para a minha filha, tentando decidir o que dizer a ela.
Eu quero que ela saiba o que ela nunca vai aprender no curso de casais
grávidos.
Eu quero lhe dizer que as feridas físicas de dar à luz irão se curar,
mas que tornar-se mãe deixará uma ferida emocional tão exposta que 
ela estará para sempre vulnerável.
 
Eu penso em alertá-la que ela nunca mais vai ler um jornal sem se
perguntar 'E se tivesse sido o MEU filho?'
Que cada acidente de avião, cada incêndio irá lhe assombrar. Que 
quando ela vir fotos de crianças morrendo de fome, ela se perguntará 
se algo poderia ser pior do que ver seu filho morrer. Olho para suas 
unhas com a manicure impecável, seu terno estiloso e penso que não 
importa o quão sofisticada ela seja, tornar-se mãe irá reduzí-la ao nível 
primitivo da ursa que protege seu filhote. Que um grito urgente de 'Mãe!' 
fará com que ela derrube um suflê na sua melhor louça sem hesitar nem 
por um instante.

Eu sinto que deveria avisá-la que não importa quantos anos ela investiu
em sua carreira, ela será arrancada dos trilhos profissionais pela
maternidade. Ela pode conseguir uma escolinha, mas um belo dia ela
entrará numa importante reunião de negócios e pensará no cheiro do seu
bebê. Ela vai ter que usar cada milímetro de sua disciplina para evitar
sair correndo para casa, apenas para ter certeza de que o seu bebê está
bem.

Eu quero que a minha filha saiba que decisões do dia a dia não mais
serão rotina. Que a decisão de um menino de 5 anos de ir ao banheiro
masculino ao invés do feminino no McDonald's se tornará um enorme
dilema. Que ali mesmo, em meio às bandejas barulhentas e crianças
gritando, questões de independência e gênero serão pensadas contra a
possibilidade de que um molestador de crianças possa estar observando 
no banheiro.

Não importa o quão assertiva ela seja no escritório, ela se questionará
constantemente como mãe.

Olhando para minha atraente filha, eu quero assegurá-la de que o peso 
da gravidez ela perderá eventualmente, mas que ela jamais se sentirá a
mesma sobre si mesma. Que a vida dela, hoje tão importante, será de
menor valor quando ela tiver um filho. Que ela a daria num segundo para
salvar sua cria, mas que ela também começará a desejar por mais anos de
vida -- não para realizar seus próprios sonhos, mas para ver seus filhos
realizarem os deles.

Eu quero que ela saiba que a cicatriz de uma cesárea ou estrias se
tornarão medalhas de honra.

O relacionamento de minha filha com seu marido irá mudar, mas não da
forma como ela pensa. Eu queria que ela entendesse o quanto mais se 
pode amar um homem que tem cuidado ao passar talco num bebê ou que 
nunca hesita em brincar com seu filho. Eu acho que ela deveria saber que 
ela se apaixonará por ele novamente por razões que hoje ela acharia nada
românticas.

Eu gostaria que minha filha pudesse perceber a conexão que ela sentirá
com as mulheres que através da história tentaram acabar com as guerras,
o preconceito e com os motoristas bêbados.

Eu espero que ela possa entender porque eu posso pensar racionalmente
sobre a maioria das coisas, mas que eu me torno temporariamente insana
quando eu discuto a ameaça da guerra nuclear para o futuro de meus
filhos.

Eu quero descrever para minha filha a enorme emoção de ver seu filho
aprender a andar de bicicleta. Eu quero mostrar a ela a gargalhada
gostosa de um bebê que está tocando o pelo macio de um cachorro ou 
gato pela primeira vez. Eu quero que ela prove a alegria que é tão real 
que chega a doer. O olhar de estranheza da minha filha me faz perceber 
que tenho lágrimas nos olhos.

'Você jamais se arrependerá', digo finalmente. Então estico minha mão
sobre a mesa, aperto a mão da minha filha e faço uma prece silenciosa
por ela, e por mim, e por todas as mulheres meramente mortais que
encontraram em seu caminho este que é o mais maravilhoso dos chamados.
Este presente abençoado de Deus... que é ser Mãe.
(Autor Desconhecido)

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