excursão com a família mas é esquecida pelo ônibus num restaurante de
beira de estrada. Então ela aproveita a oportunidade para “tirar férias”
da vida que levava: pega uma carona, vai pra Veneza e começa a
excursionar sozinha por uma nova vida.
Ao sair do cinema, me lembrei de uma passagem do livro Ela é Carioca,
Ao sair do cinema, me lembrei de uma passagem do livro Ela é Carioca,
de Ruy Castro. Lá pelas tantas ele conta que determinada mulher havia
viajado muito e freqüentado todas as festas, até que casou, teve três
filhos e por pouco não se aquietou. “Se ela se distraísse, acabaria sendo
feliz para sempre.”
Ser feliz para sempre é o final que todos nós sonhamos para nossa
Ser feliz para sempre é o final que todos nós sonhamos para nossa
história pessoal. A personagem de Pão e Tulipas estava sendo feliz pra
sempre, até que descobriu que a felicidade muda de significado várias
vezes durante o percurso de uma vida. Ninguém sabe direito o que é
felicidade, mas, definitivamente, não é acomodação. Acomodar-se é o
mesmo que fazer uma longa viagem no piloto automático.
Muito seguro, mas que aborrecimento.
É preciso um pouquinho de turbulência para a gente acordar e sentir
É preciso um pouquinho de turbulência para a gente acordar e sentir
alguma coisa, nem que seja medo.
Tem muita gente que se distrai e é feliz pra sempre, sem conhecer as
delícias de ser feliz por uns meses, depois infeliz por uns dias,
felicíssimo por uns instantes, em outros instantes achar que ficou
Tem muita gente que se distrai e é feliz pra sempre, sem conhecer as
delícias de ser feliz por uns meses, depois infeliz por uns dias,
felicíssimo por uns instantes, em outros instantes achar que ficou
maluco, então ser feliz de novo em fevereiro e março, e em abril
questionar tudo o que se fez, aí em agosto, ser feliz porque uma ousadia
deu certo, e infeliz porque durou pouco, e assim sentir-se realmente
vivo, porque cada dia passa a ser um único dia, e não mais um dia.
Eu não gosto de montanha-russa, o brinquedo, mas gosto de
montanha-russa, a vida. Isso porque creio possuir um certo grau de
responsabilidade que me permite saber até que altura posso ir e que
tipo de tombo posso levar sem me machucar demasiadamente:
alto demais não vou, mas ficar no chão o tempo inteiro não fico.
Viver não é seguro. Viver não é fácil. E não pode ser monótono. Mesmo
fazendo escolhas aparentemente definitivas, ainda assim podemos
Viver não é seguro. Viver não é fácil. E não pode ser monótono. Mesmo
fazendo escolhas aparentemente definitivas, ainda assim podemos
excursionar por dentro de nós mesmos e descobrir lugares desabitados
em que nunca colocamos os pés, nem mesmo em imaginação.
E estando lá, rever nossas escolhas e recalcular a duração de
“pra sempre”. Muitas vezes o “pra sempre”não dura tanto quanto
duram nossa teimosia e receio em mudar.
(Martha Medeiros)
(Martha Medeiros)
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