sábado, 4 de julho de 2009

Messalina – a devassa

Entregava-se,
Noite após noite, ao prazer
mais refinado da sedução.
Para ela a suprema
delícia era o reino
das carícias, do desejo amoroso e da fusão
sensual.


Ela organizara uma noite de orgia. Aos seus convivas, deitados em macios e luxuosos divãs, fez representar um culto do princípio da fertilidade, o culto do deus do amor. Uma mulher de grande beleza foi conduzida a uma espécie de altar. Mãos hábeis, em movimentos rituais, tiravam seus trajes, um a um, desvelando sua nudez. Ante olhares ávidos, surgiu um corpo sensual e provocante, causando excitamento entre os convidados. Os tambores principiaram a rufar. A jovem nua começava a dançar, ondulando o corpo em meneios langorosos, lentos a princípio, acelerando, progressivamente, acompanhada pelos tambores, até ambos, mulher e som, atingirem ritmo frenético, fazendo todos explodirem em paixão.

Ela era a quinta esposa de um imperador incapaz de prender a afeição de uma mulher. Frustrada, insatisfeita, foi se entregando a uma vida licenciosa e lúbrica. Para manter sua influência sobre o imperador, rodeava-o de lindas escravas. Cautelosa, não querendo perder o trono, ordenou fossem assassinadas as parentes cuja beleza receava.

Foi quando se apaixonou-se por Sílius, considerado por todos os mais belo dos jovens romanos, e desposou-o em banquete suntuoso. Os salões foram iluminados por milhares de tochas. As mulheres imperavam, pois Roma era um matriarcado corrupto, egoísta e ávido. A maioria delas tinha feições marcadas pela depravação, cobertas por cosméticos, exibindo jóias ofuscantes. Loiras, morenas, ruivas tinham os cabelos penteados, presos em redes faiscantes de pedras, ou em tranças entremeadas de fitas, à moda grega. Ouro, pedraria, braceletes, colares, anéis faiscavam. No ar, em torrentes, podia-se aspirar o perfume que corpos e tecidos exalavam. Entre damas de alta linhagem, também desfilavam cortesãs afamadas, escravas libertas.

E então, uma onda perpassou, elevando-se em forte murmuração. Todos ergueram-se, soou uma trombeta. Surgiu majestosa, a túnica toda bordada a ouro, os seios nus, exibidos orgulhosamente, alvos e impecáveis. Junto dela, Sílius, de cabelos de sol, belo como Adônis, alto e elegante. Solenemente juraram amor, e o imperador assinaria depois o contrato, pensando assim conjurar as ameaças dos vaticínios dos adivinhos. Noite de orgia das mais memoráveis.

Mandou matar Júlia, irmã de Calígula, de quem receava a beleza. Outra parente desta foi também assassinada. Entre suas crueldades, não faltou a cobiça. Por esta, perpetrou outras mortes.

Como Sílius era cônsul, todas as riquezas da casa imperial passavam para a sua. Tal fato representava uma ameaça, pois ele tornava-se quase onipotente. Armou-se a conspiração, Sílius suicidou-se. A imperatriz, não ousando enfrentar a morte, acabou apunhalada por um tribuno.

Ela, tal Afrodite seguida de lobos cinzas, leões de pelo fulvo, ursos e panteras rápidas, todos vorazes em sua fome, imperou nos salões dissolutos de sua corte. Ela, a grande meretriz... a seguidora da Babilônia, prostituta, a devoradora de homens. Atravessou os séculos, inscrevendo-se na História como nome de mulher extremamente dissoluta e devassa...

trecho do livro: 'Elas Mulheres que marcaram a humanidade' de Lúcia Pimentel Góes

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