quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Noite


Úmido gosto de terra,
cheiro de pedra lavada
tempo inseguro do tempo!
sombra do flanco da serra,
nua e fria, sem mais nada.

Brilho de areias pisadas,
sabor de folhas mordidas,
lábio da voz sem ventura!
suspiro das madrugadas
sem coisas acontecidas.

A noite abria a frescura
dos campos todos molhados,
sozinha, com o seu perfume!
preparando a flor mais pura
com ares de todos os lados.

Bem que a vida estava quieta.
Mas passava o pensamento...
de onde vinha aquela música?
E era uma nuvem repleta,
entre as estrelas e o vento.
(Cecília Meireles)

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