Nos últimos anos começa a se descobrir que tudo que pensávamos sobre educação de crianças está errado. Entre outras coisas, sabe-se que elas precisam mentir para se desenvolver de forma socialmente e psicologicamente saudável. E presenciar discussões, o que antes era considerado prejudicial para a mente infantil, pode ser útil para o desenvolvimento dos pequenos e dos jovens.
Ensinamos aos jovens que ao contrário de discussão é o acordo – e esse deve ser buscado. Na mente de um adolescente, não é bem assim. Para eles, a mentira é o oposto da discussão. Os conflitos – principalmente com os pais – servem para esclarecer o que não está evidente para eles. Os jovens enxergam certos tipos de conversas exacerbadas como um sinal de consideração e respeito, já que trazem à tona explicações que não teriam de outra maneira. Apesar de ficarem ressentidos após uma discussão, conseguem enxergá-la como algo bom. No longo prazo, conflitos moderados entre filhos e pais, durante a adolescência podem contribuir para o entrosamento de sua relação no futuro.
Um dos preceitos que devem ser colocados de lado é que as virtudes necessariamente contrapõem um comportamento negativo. A tendência a simplesmente taxar as coisas como benéficas ou maléficas para que as crianças entendam essa diferença é comum em nossa sociedade. Mas saiba que a desonestidade infantil é sinal de inteligência e desenvoltura social. Isso pode ser notado muito cedo.
Pesquisas com crianças americanas indicam que , apenas 33% das menores de 3 anos dão sinais de que sabem mentir, 80% das de 4 anos já tentam trapacear e percebem quando ouvem uma mentira. No caso dos adolescentes, isso fica ainda mais evidente.
Nos últimos anos pesquisadores chegaram a conclusão de que o bom e o mau não são extremos opostos na cabeça deles. Por outro lado, deduzíamos que, assim como o adulto é capaz de captar uma mensagem subliminar em ambientes culturalmente diversos, a criança também é. Um equívoco – elas precisam ouvir declarações explícitas sobre o quanto é errado discriminar as pessoas pela cor da pele, por exemplo. Caso contrário tiram suas próprias conclusões colhendo impressões avulsas a partir de atitudes e comentários dos pais. Para a criança as diferenças raciais se parecem com a diferença entre o rosa e o azul. Ensinamos a elas que rosa é para meninas e azul para meninos, enquanto que as diferenças raciais são mistérios que deixamos para que desvendem sozinhas.
Apesar dessas contradições, a busca para tentar entender profundamente as crianças e adolescentes não é um esforço em vão. Na verdade, é estudando bem de perto essas aparentes contradições que conseguiremos compreendê-los realmente. Quando nos parecem mais enigmáticos é que nós, seus responsáveis e educadores, podemos aprender algo novo.
Fonte: revista Galileu - agosto 2010 - nº 229 - págs 94 e 95
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